Em 1997, o filme “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” virou cult com o suspense em que adolescentes tentam esconder um crime acidental. Passados vinte anos, o título soa inofensivo se comparado às práticas dos gigantes da internet. Google e Facebook sabem o que seus clientes fizeram não apenas no verão passado, mas a cada segundo (Nota Thoth: e por extensão todo o aparato de inteligência do estado mais vigiado do planeta tem acesso às suas informações, assim como a CIA, FBI, DIA, DHS, FEMA, etc…)
A opressão da vigilância: Você não sabe, mas o Google usa seu celular para gravar suas conversas. A discutível iniciativa mostra que estamos cada vez mais expostos. Afinal, qual é o uso que a empresa faz dessas informações?
Por Bárbara Libório e Celso Masson – Fonte: http://istoe.com.br/
Na falta de uma legislação específica sobre (o respeito à) privacidade e valendo-se da anuência do usuário a partir do aceite de “termos de uso” raramente lidos com a devida atenção, essas empresas exercem uma vigilância opressiva (mas dissimulada), coletando e estocando dados que a maioria (dos zumbis) sequer imagina ter fornecido. Muito menos como o fez.
Um exemplo chocante é o dispositivo que permite ao Google gravar conversas a partir do acionamento do microfone do celular mesmo quando o aparelho sequer está sendo usado. Como o recurso é ativado sem que o usuário seja informado, ele dificilmente percebe quais trechos de suas conversas foram capturados. As gravações são limitadas a poucas palavras e ficam armazenadas na conta de cada usuário, que pode acessá-las na página “Minha atividade > voz e áudio”.
Segundo a empresa, o intuito das gravações é “aprimorar o recurso de reconhecimento de voz” para pesquisas em qualquer idioma. Curiosamente, na página sobre privacidade, em que explica quais dados de seus usuários coleta e utiliza, não há menção às gravações aleatórias de conversas dos usuários. O Google não atendeu a solicitação de entrevista feita pela reportagem da ISTOÉ, limitando-se a fornecer esclarecimentos já divulgados sobre o tema.
Google e como o site de buscas grava suas conversas e de que forma você pode impedir:
Configuração
Quando você configura o smartphone e aceita os termos de uso do Google, pode permitir o acesso ao microfone do seu celular.
Uso das informações
A empresa diz que o recurso é usado para garantir um refinamento nas ferramentas de reconhecimento de linguagem e para tornar o mecanismo de busca e anúncios mais relevantes ao usuário. O Google nega a venda dessas informações para outras empresas.
Falha do sistema
Usuários alegam que conversas com outras pessoas também são gravadas, como se o celular tivesse ouvido a conversa. De acordo a empresa, isso não é intencional e pode ocorrer por um erro do sistema.
Arquivos de voz
Você pode saber o que foi gravado e apagar os registros. Para isso, é preciso acessar a página “Minha atividade > voz
e áudio” do Google.
Transcrições
Na página você vai encontrar todas as pesquisas e comandos de voz que fez no smartphone, separadas por data. Cada registro pode ou não conter uma transcrição. É possível também ouvir os trechos de áudios gravados.
Bloqueio
Para excluir a conversa é preciso marcar o checkbox que aparece à esquerda do registro e depois clicar em “excluir”, no canto superior direito. Na mesma página também é possível bloquear futuras conversas.
Para especialistas em marketing digital, a real explicação para tais gravações pode estar no direcionamento da publicidade paga. A “personalização de anúncios” é defendida como forma de tornar mais úteis as informações veiculadas pelos “mais de dois milhões de websites e apps não pertencentes ao Google e que fazem parceria com o Google para exibir anúncios”. No entendimento de Marco Konopacki, coordenador de projetos do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, as gravações servem para otimizar o serviço da empresa. “Eles podem cruzar essas informações (de pesquisas feitas pelo usuário) e oferecer um anúncio. Isso também é feito para tornar a busca mais relevante e aumentar a utilidade no buscador deles”. Uma vez que o dono do smartphone aceita os termos de uso que permitem interagir com o aparelho por meio de comandos de voz, ele na prática está liberando também que sejam feitas gravações. O que muitas vezes passa despercebido é que, para o celular obedecer a um comando de voz, ele precisa “ouvir” o tempo todo, o que não significa que os sons ao redor dele serão gravados. Páginas do Facebook estão repletas de relatos de usuários que foram direcionados a anúncios específicos sem que jamais tivesses feito qualquer pesquisa sobre o assunto, mas que o haviam mencionado em conversas com amigos.
“Ainda não está claro, em nosso país, quais dados pessoais a que as empresas e a Administração Pública podem ter acesso, e nem mesmo como essa coleta e armazenamento ocorrem”, diz Gisele Truzzi, advogada especialista em direito digital. “Estamos em um campo onde a legislação e a regulamentação ainda são insuficientes. Mas isso não significa estarmos de mãos atadas para coibir excessos”. Ela cita o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que define a privacidade como direito do usuário em seu Art. 7º. Para a advogada, uma disposição de termo de uso que represente qualquer nível de intrusão na vida do cliente viola o artigo e o princípio de privacidade que está na Constituição. O Projeto de Lei nº 5246/2016, ainda em tramitação, amplia a proteção à privacidade dos usuários. Caso estivesse em vigor, as gravações do Google poderiam ser entendidas como algo que extrapola a finalidade, a necessidade e a transparência da relação com o cliente.
“Anonimizado”
Embora afirme não gravar conversas dos usuários, o Facebook não nega que o recurso faça parte de algumas funcionalidades dos serviços prestados. “Nós apenas acessamos o microfone dos telefones das pessoas quando elas estão utilizando ativamente alguma ferramenta específica que requer áudio e somente quando elas autorizam”, diz um porta-voz da empresa. A coleta de dados para otimizar a entrega de anúncios é feita a partir das informações que o usuário decide fornecer, dos serviços que usa com o login do Facebook e de sua interação com os amigos. Mesmo que dados pessoais estejam disponíveis na plataforma, cada usuário é “anonimizado”. Ou seja, a oferta de anúncios e as sugestões para seguir outras pessoas se baseiam no uso que cada um faz do serviço, sem identificar quem é quem. Só no Brasil, o Facebook tem 117 milhões de pessoas ativas todo mês. No mundo, 1,9 bilhão. A política de não lucrar com as informações pessoais dos clientes não impede o Facebook de realizar ações de marketing. Com os dados detalhados que coleta, a empresa foi capaz, por exemplo, de fornecer à cervejaria Budweiser informação sobre a data de aniversário de clientes nos Estados Unidos. Eles foram presenteados com uma lata de cerveja da marca ao completar 22 anos.
Ainda que não grave as conversas dos usuários, o Facebook conta com recursos como o reconhecimento facial das pessoas cujas fotos são publicadas na plataforma, além de arquivar praticamente todas as mensagens já trocadas na rede social. Infelizmente, não é possível limitar o alcance do Facebook neste quesito: está nos termos de uso que a empresa pode ter acesso pleno ao que o usuário acessa e clica dentro do site. “Na era da informação, os nossos dados são a moeda de troca”, diz a especialista em direito digital.
Facebook e alguns itens sobre você guardados no Registro de Atividades da “rede social”:
Anúncios clicados
Data, horário e títulos dos anúncios visitados.
Tópicos de anúncios
Uma lista de tópicos para os quais você pode ser direcionado com base nas curtidas, nos interesses e em outros dados informados na sua Linha do Tempo.
Cartões de crédito
Se você fez alguma compra e forneceu o número do cartão ao Facebook.
Reconhecimento facial
Baseado em uma comparação das fotos em que você está marcado. Os dados servem para ajudar outras pessoas a marcar você nas fotos delas.
Números de telefone
Adicionados à sua conta, incluindo números de celulares alternativos que você adicionou por questão de segurança.
Fotos
Todas as imagens carregadas em sua conta.
Vídeos
Todas as gravações publicados na sua Linha do Tempo.
Visões políticas
Qualquer informação adicionada a Preferência política na seção Sobre da Linha do Tempo.
Visões religiosas
As informações adicionadas a Religião na seção Sobre da sua Linha do Tempo.
Compartilhamentos
Todo o conteúdo que você compartilhou com outras pessoas no Facebook usando o botão ou link Compartilhar. Por exemplo, notícias ou postagens de outras pessoas.
Colaborou Thais Skodowski
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